O ano é 1972, “videogame” é só um termo usado por alguns engenheiros sisudos e até uns dias atrás nenhuma criança ali sabia o que diabos era “Atari”. E dentro desse lugar desconhecido até então, seus engenheiros explicavam um novo conceito de diversão mais ou menos assim:
Veja também:
“É como um jogo de tênis de mesa. Tem uma bolinha na tela, e tudo que você tem que fazer é bater nela com essa barrinha para que a bola passe para o lado de lá, onde o player 2 vai tentar rebater com a outra barrinha. Quem deixar passar dá ponto pro outro. Você controla a barrinha pra cima e pra baixo girando esse botão aqui e a partida vai a 11. Bom, é isso. Ah, o nome é ‘Pong’”
Quando Nolan Bushnell e Ted Dabney, fundadores da Atari, criaram o primeiro game comercializável da história, provavelmente nunca imaginaram que aquela bolinha com bate-rebate viciante iria ter um efeito bola de neve e gerar um verdadeiro universo de entretenimento, intenso, com direito a astros e estrelas, mas também… buracos-negros.
De um lado, um mercado que gera muitas oportunidades de emprego, fama e até fortuna. Do outro, problemas que causam transtornos de ordem clínica, social e até política. Diante desses extremos, surgem algumas dúvidas: até onde vai o lado bom e ruim de viver isso tudo no modo hard?
O assunto acima é certamente delicado e precisa ser debatido. Contudo, desde que o mundo é mundo, toda vez que o jovem precisa discutir algo polêmico sobre seu comportamento, quase sempre, é algo que lhe soa como o meme abaixo:
Diante disso, nada melhor do que desenrolar esse assunto numa linguagem mais compatível, que possa contar com pesquisas e até mesmo uma descontraída sessão na NETFLIX. A Betway, famoso site de apostas em e-Sports e a gigante do streaming usaram seus pontos fortes para falar do assunto, tudo com muita pesquisa, vídeos e ouvindo todos os lados envolvidos. Confira abaixo:
Quando o gosto evolui para vício
No que se refere ao primeiro campo, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), “para que o transtorno dos jogos eletrônicos seja diagnosticado, o padrão de comportamento deve ser de gravidade suficiente para resultar em um comprometimento significativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, profissional ou outras áreas importantes de funcionamento, e deve ser observado regularmente por pelo menos 12 meses”.
Assim, o desdobramento em cima do tempo dedicado a cada atividade é que vai determinar se há algo fora de sintonia. Diante disto, entender e perceber os limites entre o lazer e a dependência é fundamental para não cair num quadro clínico perigoso. Contudo, perceber isso é o grande desafio para amadores e profissionais muitas vezes.
Especialistas falam dos limites
Em seus estudos, os especialistas seguem duas linhas na hora de analisar o comportamento gamer, que se divide entre o jogador comum e o que atua de maneira profissional, no mercado de e-Sports.
Proplayers
Claudio Godoi, psicólogo da Team Liquid, organização holandesa que atua em esportes eletrônicos no mundo inteiro, está no segmento desde 2015 e aponta a importância de se trabalhar pontos distintos da vida de um atleta de games, para que ele não venha a sofrer consequências físicas e psicológicas.
Muita gente vai achar exagerado, mas o fato é que um jogador profissional de games precisa dos mesmos tipos de suporte que precisa um atleta de futebol, que conta com psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista e preparador físico. É justamente a combinação dessas e outras ações que irá fazer com que nenhum campo invada e prejudique ou outro.
Para entender melhor, vale comparar a rotina do gamer profissional com a vida de um jogador de futebol. Ambos sentem e lidam a todo momento com questões envolvendo ego, família, isolamento, viagens, exposição, performance, dinheiro e vários outros tipos de pressão, que podem encontrar na intensificação profissional uma válvula de escape hoje, mas um sério problema amanhã.
Confira aqui a entrevista completa com o psicólogo, que alerta sobre os tipos de doenças que o exagero nos games pode trazer e também, como encontrar um equilíbrio saudável não só dos pro players, mas também de quem tem o hábito de jogar por lazer e diversão.
Usuários comuns
A situação do jovem que não joga de maneira profissional é ainda mais delicada. Sem contar muitas vezes com a observação de profissionais citados acima, o distúrbio/transtorno só é percebido muitas vezes quando isto já está profundamente instalado.
Contudo, os estudos são categóricos em afirmar que tanto para jogadores profissionais quanto para amadores, o que vai diagnosticar um impacto prejudicial nas outras atividades do dia é o desempenho da pessoa fora da jogatina. Questões como sono, desempenho profissional, escolar e outras atividades físicas e sociais precisam estar em conformidade com o que era visto até então.
Para ambas as realidades, antes de mais nada, o prazer em realizar isso precisa estar a frente de todos os critérios.
O que dizem os atletas do segmento?
Entre os estudos e documentários, está a vida na prática. E é nesse ponto que estão os atletas profissionais que, com o devido equilíbrio entre as áreas da vida, conseguem extrair vivências notáveis jogando videogame.
É o caso de Gabriel Hespanhol (conhecido como cameram4n), um dos principais jogadores brasileiros de Rainbow Six Siege, um jogo do estilo FPS (tiro em primeira pessoa) extremamente tático e estratégico. Profissional desde 2015, o brasileiro teve nos games uma grande escola.
“O Rainbow Six foi a maior escola da minha vida. Eu aprendi a lidar com muitas pessoas diferentes, de lugares diferentes, com mentalidades diferentes. Tem que adequar tudo na mesma sintonia. Você tem que saber lidar com as situações e tentar ignorar, e até ajudar o parceiro para que todo mundo tenha o mesmo foco, o mesmo objetivo, que é ganhar os torneios (…) Você cria uma certa maturidade de saber a responsabilidade que você tem para conseguir resultados e acaba tendo um foco, uma diretriz” – disse.
Documentário na NETFLIX
Por fim, toda essa análise sobre limites para evitar desdobramentos trágicos em torno da paixão pelo videogame, também é um assunto que rende na plataforma de streaming mais famosa do mundo. O documentário “Not a Game”, da Netflix, fala por mais de uma hora e meia sobre o assunto.
“O Rainbow Six foi a maior escola da minha vida. Eu aprendi a lidar com muitas pessoas diferentes, de lugares diferentes, com mentalidades diferentes. Tem que adequar tudo na mesma sintonia. Você tem que saber lidar com as situações e tentar ignorar, e até ajudar o parceiro para que todo mundo tenha o mesmo foco, o mesmo objetivo, que é ganhar os torneios (…) Você cria uma certa maturidade de saber a responsabilidade que você tem para conseguir resultados e acaba tendo um foco, uma diretriz” – disse.
Documentário na NETFLIX
Por fim, toda essa análise sobre limites para evitar desdobramentos trágicos em torno da paixão pelo videogame, também é um assunto que rende na plataforma de streaming mais famosa do mundo. O documentário “Not a Game”, da Netflix, fala por mais de uma hora e meia sobre o assunto.
Contanto com depoimentos de profissionais, pais de gamers viciados, médicos, políticos (Donald Trump, que detona games violentos em pronunciamento oficial) e outros envolvidos no tema, o documentário conta ainda com curiosidades como a luxuosa clínica de reabilitação holandesa, especializada em recuperar jovens viciados em videogame, mas que até hoje só recebeu amadores para se internarem.