Infelizmente, mais uma vez os temas ‘games’ e ‘morte’ se cruzaram de maneira trágica. Agora, um crime ocorrido dentro de um fliperama no Japão em 2004 teve seu julgamento concluído com o castigo máximo no arquipélago: a pena de morte. E isto é só o começo das angústias, seja para o condenado ou para quem busca se informar como isso funciona por lá. Confira abaixo os fatos que deixam a decisão ainda mais polêmica para muitos:
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1 – A pena é a forca
O método de execução usado desde a idade média também é praticado num dos países mais tecnológicos do mundo desde 1873. O enforcamento penal japonês segue basicamente a mesma técnica vista nos livros de história, quadros, filmes e seriados.
Uma corda é envolvida no pescoço do condenado, que na sequência ficará suspenso pelo instrumento após ter o apoio sob seus pés retirado abruptamente.
2 – Quanto tempo demora até o dia?
Embora a justiça local determine que a execução deva ocorrer em até 6 meses, isso historicamente não acontece por lá. Podem passar-se anos e até mesmo décadas até que o dia final chegue para o condenado.
3 – Como o condenado espera?
Há um sistema rígido de isolamento até o dia da morte. O condenado segue preso em uma solitária e nunca mais terá acesso à TV, rádio, internet ou jornais impressos e apenas um restrito material impresso de entretenimento não detalhado pode chegar até ele. Visitas de advogados ou familiares são raras e muito burocráticas de se conseguir. Eles podem se exercitar duas vezes por semana.
4 – O Aviso
Qualquer dia pode ser o dia da morte, mas há um sinal: isto é sempre no período da manhã. O condenado fica sabendo exatamente uma hora antes de tudo acontecer. Os homens precisam limpar suas celas, tem direito a fazer uma oração e deixar um bilhete de despedida para os familiares, que só serão avisados depois de sua morte.
5 – Últimos direitos
Além do bilhete para os parentes e oração, ainda é possível ter direito a uma última refeição e se encontrar com uma autoridade religiosa numa sala localizada ao lado do espaço de execução instantes antes do fim.
6 – Ninguém sabe onde e quando isso acontece
Diferentemente do que se via na idade média, não há a espetacularização do ato. Se antes praças se enchiam para ver os condenados se contorcerem até a morte, as salas de execução tem localização secreta e pouquíssimas pessoas sabem onde elas ficam.
Tudo que se sabe é que existem 7 salas espalhadas pelo país nas cidades de Tóquio, Sapporo, Sendai, Nagoya, Osaka, Hiroshima e Fukuoka. O Ministério da Justiça é quem crava o dia e a hora da morte, mas não avisa isto publicamente afim de evitar protestos de ativistas e demais movimentações em torno do ato.
Em 2010, um grupo de jornalistas conseguiu acesso à sala de Tóquio, numa inédita permissão concedida pelo primeiro ministro da época, Keiko Chiba. Publicamente contra a pena de morte no país, ele convidou os profissionais de imprensa para conhecerem o local e levantar debate sobre o tema, mas não conseguiu evitar uma condição:
Todos tiveram que ser vendados e irem até o local num ônibus com janelas vedadas por cortinas, num trajeto que provavelmente demorou mais tempo do que o previsto para despistar de vez qualquer suposição de local de onde estavam. Sabe-se, entretanto, que uma dessas celas fica na Casa de Detenção de Tóquio.
7 – Prática medieval, equipamentos modernos
Diferentemente do que se fazia nos julgamentos medievais, agora ninguém empurra o condenado de uma plataforma ou chuta-lhe o banco sob seus pés. No Japão, o preso é conduzido de olhos vendados e algemado para uma sala com decoração de madeira, e é posicionado sob uma espécie de alçapão.
Para o preso, não há um alarme ou qualquer sinal que indique ao preso que o alçapão se abrirá, tudo que ele ouvirá é o som do dispositivo mecânico se abrindo sob seus pés, o direcionando para uma queda direto para a sala de baixo, onde médicos verificarão a morte clínica assim que o corpo apresentar sinais finais de óbito.
8 – ‘Loteria’ de carrascos
O alçapão conta com um sistema de abertura eletrônica comandado por três botões que ficam na sala ao lado. E em cada um destes botões está um guarda com o dedo em cima. Todos precisam apertar ao mesmo tempo para que a plataforma abra.
Contudo, somente um destes botões dá o comando real da tarefa, e nenhum dos guardas sabe qual é. Assim, o peso pela execução, em tese, não fica diretamente para nenhum dos guardas.
9 – Tortura que enlouquece
A soma de todas essas informações absorvidas por parte do condenado quase sempre termina com o preso desenvolvendo um grau agudo de distúrbio mental. Existem pelos sites que cobrem o assunto alguns relatos de pessoas que enlouqueceram no corredor da morte.
Há nas entrelinhas deste processo de espera duras críticas quanto aos níveis de crueldade a que são impostos os presos. O fato das execuções serem sempre de dia, por exemplo, podem gerar quadros de ansiedade deixando praticamente todas as noites intermináveis. Os parentes, de certo modo, também experimentam da mesma angústia e tortura.
10 – Histórico arrepiante
Assim como boa parte dos países, o procedimento de julgamento no Japão já teve dias mais brutais e aterrorizantes. Durante o período Kamakura (que foi de 1192 a 1333), por exemplo, penas cruéis como queima, fervura e crucificação foram usadas. Isso piorou no período seguinte, quando crucificação invertida, empalamento, serragem ao meio e desmembramento através de amarras colocadas em bois e carroças foram penas aplicadas rotineiramente .
O inocente que quase morreu
Quando o assunto é pena de morte, alguns casos chamam a atenção no país. É o caso de Masao Akahori, que viveu 31 anos no corredor da morte e sabe bem tudo que, aos poucos, pode levar à loucura durante esse período. De acordo com um de seus relatos, os presos costumam saber até a quantidade de passos dos guardas, de tão controlado que é tudo.
E sempre que na manhã em que esses passos saem do previsível, é sinal de que alguém será executado. Certa vez, ele disse que a movimentação de passos foi parar com guardas de frente para a sua cela. Eles abriram a porta e já iam levá-lo para a execução, quando se deram conta de que ele era o preso errado, numa provável tortura psicológica, dado que um sistema com tanto controle dificilmente iria levar a um erro deste tipo.
Após uma vida inteira preso e aguardando a morte diariamente, Masao foi declarado inocente e libertado em 1989, aos 59 anos, recebendo do governo uma indenização de quase de 1 milhão de dólares na época. “Sinceramente, guardo profundo rancor e ódio”, disse Masao, que recebeu o equivalente a 75 dólares por cada um dos 12.668 dias que ficou preso.
O Culpado que morreu, mas comoveu o Japão
Em 1968, quatro assassinatos na região de Tóquio dariam início a um caso que repercutiria internacionalmente. Norio Nagayama, na época com 19 anos, roubou uma arma da base naval dos EUA em Yokosuka e promoveu uma onda de assaltos em quatro cidades que terminaram com quatro mortos.
O jovem foi capturado um ano depois, considerado menor de idade pelas leis da época, Norio passou 10 anos preso até receber a sentença de morte em 1979, e passou a aguardar a pena desde então. Em 1981, um recurso da defesa conseguiu converter a pena para prisão perpétua.
Entretanto, o Supremo Tribunal do Japão reverteu a decisão do tribunal superior dois anos depois, voltando o preso para o corredor da morte. A alta corte em prisão preventiva posteriormente o sentenciou à morte em 1987, uma decisão que a Suprema Corte manteve em 1990.
E em 1997, aos 48 anos, Norio foi finalmente enforcado por decisão do Ministro da justiça Isao Matsuura.
Entretanto, o que deixou o caso de Norio internacionalmente conhecido não foram só as questões humanitárias e legislativas que envolvem seu caso. Apesar da infância pobre e sofrida, Nagayama era muito bom com as palavras.
Enquanto esteve preso, ele escreveu diversos romances que ganharam notoriedade a ponto dele receber prêmios por seus livros, algo que deixava os japoneses desconcertados e sem saber o que achar disso. Em algumas passagens de suas obras, ele atribuiu a culpa pelo seu comportamento à sua infância pobre e violenta.
Mesmo negado na academia de literatura de seu país, seu romance chamado “Kibashi” (Ponte de madeira) ganhou um prêmio de literatura em 1983. Outra obra sua de muito sucesso é sua autobiografia “Muchi no namida” (Lágrimas da Ignorância) de 1971.
Nela, Nagayama relatou estar arrependido pelos crimes cometidos e criticava a pena capital como forma de condenação. Norio decidiu doar todos os direitos de Muchi no Namida às famílias das vítimas, e ao morrer, seu testamento ordenou que os lucros de sua obra fossem destinados à crianças pobres, para que essas não tivessem o mesmo destino que ele.
Confira o caso do fliperama aqui.