Se houve algo de positivo que a era da internet trouxe ao universo gamer foi a chance de conhecer um pouco mais sobre os bastidores da indústria que movimenta a arte de fazer videogame. Anteriormente reduzida às reportagens impressas, foi com a web que se pôde conhecer mais a fundo (e com baixo custo) detalhes sobre esse processo que há décadas diverte, informa e educa os mais variados públicos.
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E embora nem tudo sejam flores nessa indústria conforme foi explicado aqui, existem muitos lados que podem ser extremamente convenientes para quem resolver se tornar um profissional desse ramo. Confira baixo:
1) Flexibilidade de horário
Para algumas pessoas, acordar cedo é um martírio. Seja por questões de transporte, segurança ou simplesmente por não render bem nessa parte do dia, muitas pessoas acabam tendo que se encaixar em uma configuração que muitas vezes não extrai o melhor de sua força de trabalho.
Contudo, madrugar não é necessariamente uma obrigação de quem trabalha no desenvolvimento de um game, por exemplo. O que é muito observado nesse setor é que existe a missão da rodada. Ou seja, o contratado recebe algo para fazer dentro de um tempo X, e cabe a ele entregar esse material até o seu dead line. A hora que isso vai ser feito não importa, desde que obviamente seja entregue no prazo.
Rafael Lima, artista 3D, programador e game designer, constatou que se tornou mais produtivo com essa flexibilização de horário. “Foi algo que me deixou até mal acostumado, porque depois que eu comecei, não quis mais voltar do outro jeito” diz.
Marx Walker, jornalista gamer e ex-funcionário da Div. PlayStation Japan, também enxerga benefícios na parte que se refere a trabalhar com a cobertura jornalística desse segmento.
Thomas Leme, game designer há 12 anos, fundador da Overtime Studios e com games como Magic Puzzle Quest no currículo, levanta a questão da criatividade ser usada de maneira não forçada. “Nesse mercado, não funciona bem assim” diz Thomas, que confessou ter recebido com surpresa a informação de que ele poderia chegar a hora que quisesse em seu primeiro trabalho na área, desde que estive à tarde para as reuniões marcadas.
Já os jornalistas que cobrem essa área também podem flexibilizar seu tempo de atuação de acordo com cada oportunidade. “Ontem mesmo eu precisei ficar até as 3 para cobrir um evento da SEGA no Japão” comenta Marx, que durante o dia pôde utilizar esse tempo para outras coisas do cotidiano.
Daniel Rivers, que atuou nos efeitos especiais do seriado Black Mirror e hoje é professor e fundador da Escola Rivers de Games e Design, também entende que a pandemia serviu para rever esses conceitos de concentração para produtividade.
Daniel lembra que a sua primeira experiência com home office foi inicialmente conflitante, já que seus familiares entendiam sua presença ali como uma oportunidade pertinente para que ele fizesse outras tarefas. Contudo, os tempos atuais serviram para rever esses conceitos de trabalho em casa, e os games, mais do que nunca, estão dentro dentro dessas configurações de flexibilização de horários e localização.
2) Legado
Quem trabalha com games pode ter como um de seus principais orgulhos profissionais o fato de deixar um legado no entretenimento. Se você, por exemplo, pegar o épico (e infernal) Contra III, ligá-lo daqui 50 anos e conseguir zerá-lo (boa sorte), lá estará o nome de um jovem chamado Nobuya Nakazato, que foi designer e diretor desse game, que é um dos maiores clássicos de todos os tempos.
E dentre os amantes dessa arte, sempre existirão as pessoas que se ligam nos créditos ao final de um jogo, lendo em pensamento o nome de algumas figuras que acabaram de lhe dar tantos momentos de entretenimento. É para esse público que Thomas entende que de fato há um legado. “Um dos sentimentos mais gratificantes que eu tive na minha vida profissional é realmente você lançar um jogo e ver o seu nome lá.” diz.
Marx avalia que, independentemente do setor de games em que se atue, é possível sim deixar legados expressivos. E esse legado pode ser para uma ou muitas pessoas, onde o impacto da sua obra em uma vida que seja é o que deixará todo o esforço recompensado.
Como exemplo dessa aleatoriedade digna de legado, Marx cita suas experiências dentro da produção de PlayStation 3 no Japão, na qual participou como líder de produção. A fase vivida fora do país lhe atribuiu muita experiência, mas foi na produção de um console popular que o então imigrante se percebeu deixando um legado.
Por sua vez, Daniel confessou que percebeu seu legado nessa indústria enquanto professor, já que cada aluno que chega revelando que seu rumo profissional mudou graças às suas aulas lhe comove de maneiras diferentes, mas sempre com a mesma identidade.
Rivers tem ainda um link especial quando o assunto é legado e games: sua participação na produção dos efeitos especiais no episódio Striking Vipers, da 5ª temporada do famoso seriado Black Mirror. Confira o trailer do episódio abaixo e a reportagem oficial sobre a participação de Daniel ao final da matéria:
3) Desafios
Não há rotina para quem trabalha nessa área, e a causa disso tem vários fatores, que podem se combinar ou não. A área demanda bastante atualização, fazendo com um projeto tenha sempre muito pouco de seu antecessor em várias frentes.
E com o ineditismo de muita coisa, vem os desafios, que podem ser encarados como missões prazerosas de serem superadas dependendo de que as encare. “Cada jogo é um monstro novo” compara Thomas, apontando que um jogo de luta tem uma mecânica totalmente diferente que um game de puzzle. “Sim, pode ser que você estude matemática para foguetes” adverte.
4) Trabalhar perto de quem você admira
Por ainda ser um nicho relativamente pequeno quando comparado com outras áreas como cinema, por exemplo, é trabalhando com games que você poderá ter grandes chances de estar perto de alguém que admira muito nesse meio.
As experiências dos professores Daniel e Thomas são exemplos agudos de que não é preciso sequer sair do Brasil para, em alguma oportunidade, trabalhar ao lado de pesos pesados e em grandes projetos. Claro, tudo vai depender de empenho e oportunidades em geral, mas é fato que a área tem vastas chances de você bater uma bola com seu ídolo em algum projeto.
E tão importante quanto estar perto de um mito, é entender o quão mito você também pode ser também.
Na parte da imprensa também é possível ter um relativo acesso facilitado quando o assunto é falar com uma celebridade desse mercado. Nos eventos desse segmento, quando você estiver numa fila para autógrafos de seu ídolo e ver alguém passando na sua frente, seu praguejamento com certeza está se direcionando a um profissional da imprensa, que vai conversar por alguns segundos com ele particular (e claro, tirar umas fotos legais).
5) Aprender inglês de um jeito mais interativo, dinâmico e prazeroso
É bem verdade que quem joga videogame desde pequeno sempre teve o inglês como um dos primeiros desafios nessa brincadeira. Para quem cresceu traduzindo na raça textos e diálogos durante os jogos, chegar à vida adulta com um inglês melhorado foi consequência. E ao se trabalhar com games, essa jornada prazerosa continua, agora valendo dinheiro.
O seu amigo daquela multi-nacional também precisa aprender inglês, mas ele jamais fará isso com uma garrafa de Coca do lado e com um videogame ligado na frente. É disso que estamos falando.
6) ter vários tipos de habilidades
Numa profissão onde é importante conhecer vários softwares, uma verdade que cabe é que quem está nesse meio pode se virar em vários tipos de trabalho freelance. Programas como Photoshop, Illustrator, Corel Draw, 3d Max e outros podem ser de grande valia quando uma pandemia se instala, por exemplo.
7) Entender um pouco de tudo
Essa meio que rima com o vantagem anterior, mas pode ser destacada dentro do benefício que é gerado quando você interage com qualquer plataforma de entretenimento. Por terem noções importantes de edição de vídeo, imagem, diagramação, camadas, vetores, luz e afins é que esses tipos de profissionais conseguem perceber e conversar sobre várias coisas referentes a tecnologia.
Aquele efeito especial que você nem imagina como pode ser feito é tipo terça-feira na vida desse pessoal, que pode se sentir muito confortável em lhe explicar para a sua surpresa que Robert Downey Jr. nunca vestiu um uniforme que você vê nos filmes, por exemplo.
Conclusão
Assim como dito na semana passada, há sim pontos complicados e decepcionantes de se trabalhar com games. Contudo, se estes pontos forem sendo trabalhados de maneira sensata e inteligente, é perfeitamente possível se reapaixonar constantemente por este tipo de arte. Confira o bate-papo na íntegra: