Publicidade
Mercado

Uma Bela Paisagem na Janela

Estamos avançando no mercado de games?
Gostou? Compartilhe!
riogamervista2-1
Vista da sede da Rio Games. (Imagem: Divulgação)
Publicidade

Introdução

Há muitas histórias por trás de uma bela foto. Histórias belas como por exemplo de superação, motivação, sucesso e tantas outras que ficam lindamente estampadas nas redes sociais. Contudo esta mesma foto pode guardar também histórias muito tristes e que ficam ocultas numa cortina de fumaça.

Faço esta analogia devido a constante notícia que eu vejo publicada na imprensa brasileira especializada em tecnologia que é a seguinte:

“O mercado de videogames se consolidou em meados da década de 80 e em pouco mais de 30 anos se tornou o maior mercado no âmbito do entretenimento. Atualmente, a arrecadação deste setor supera a arrecadação dos mercados de cinema e música somados e cresce mais de 10% ao ano.”

Continua depois da Publicidade

Acho isso muito interessante, pois mostra a pujança do mercado de videogames. Nós brasileiros, somos consumidores vorazes de jogos…ESTRANGEIROS!

Onde está a indústria nacional? Ela cresceu com a demanda do mercado de jogos em nosso país/mundo? Nossos profissionais de jogos tem garantia certa de colocação no mercado do Brasil ao se formarem?

Neste artigo vou mostrar um pouco que a paisagem bela da janela, não é tão bela e que muita coisa precisa mudar. Como dizia Galileu da Galiléia: Vamos cair de cabeça nisso!

O Mercado Nacional de Videogames

Gamers vs youtubers ~ zonafree2play

Primeiramente vamos fazer uma divisão importante entre mercado consumidor e mercado produtor do Brasil. Nosso mercado consumidor é o primeiro da américa latina e o décimo segundo do mundo, movimentando cerca de 1,5 bilhões de dólares.

Já a indústria de games brasileira tem um perfil bem modesto. De acordo com o censo do Sebrae de 2020, há cerca de 375 estúdios atuando na área, na sua maioria microempresas (71%) faturando 81 mil reais mês em média.

Surpreso? Pois é, o mercado consumidor brasileiro gera muita grana para as empresas estrangeiras no país, mas as nacionais lucram muito pouco neste universo. Mas o que acontece já que temos eventos grandes como GAMEXP, BGS, etc?

A verdade é que estes eventos são para os grandes da indústria, os gigantes estrangeiros que estão no mercado atuando a décadas. Empresas estas, responsáveis por franquias milionárias de games, que solapam a cada ano uma nova versão de seus jogos para um público fiel.

As empresas brasileiras aparecem de maneira bem modesta, com presença pequena. A verdade é que neste universo, muito poucas se destacam. Esta é a realidade do nosso mercado e precisamos deixar isto muito claro. Por isso devemos colocar um ponto final neste discurso.

O que precisamos mudar? O que precisamos fazer?

Antes de tudo o processo passa por uma enorme quebra de paradigmas ainda enraizados na cabeça de muito dev nacional. É preciso falar que a síndrome do jogo indie, aquele que vai revolucionar a indústria, ainda está muito presente. Este mal ainda existe com muita força.

Falo isso com bastante autoridade, já tenho participado de diversas rodadas de investimento e a falta de preparo por parte dos devs é tamanha. Não se fazem estudos de negócios, mercado, público e ainda existe uma inocência tamanha por parte de muitos.

Os diversos “pitches” que assisto demonstram o que eu falo acima, e é raríssimo algum desenvolvedor aparecer com um produto robusto e com uma premissa comercial bem sedimentada (quando ocorre isso, normalmente o dev ou estúdio, já atuam no mercado exterior).

Este raio-x do mercado é muito triste, pois não há por parte desta geração atual uma visão comprometida com uma indústria e sim apenas com um desejo de fazer um “novo jogo de sucesso”. É um sonho que em 90% dos casos, acaba em frustração.

Por isso quando lemos estas reportagens sobre o incrível mercado dos games, temos que realmente saber distinguir o de consumidor versus o de produtor.

As Empresas Nacionais que Dão Certo

Existem neste mar de ilusão, empresas que realmente estão muito bem obrigado, pois enxergaram sua atividade como negócio. Fazem outsourcing para grandes estúdios estrangeiros, fazem jogos para empresas tradicionais, trabalham com atividades afins na área de jogos.

Também podemos falar que estas empresas descobrem nichos de atuação e se especializam, gerando assim fluxo de caixa e sustentabilidade econômica. Neste momento estes estúdios começam a publicar seus jogos autorais, pois já tem como “pagar os boletos”, atendendo um mercado nacional e estrangeiro.

Aliás, é importante falar que o mercado estrangeiro está sempre em busca de mão de obra especializada, estas mesmas empresas e diversos profissionais BR, começam a atuar muito mais fora do Brasil (ainda mais com o trabalho remoto) do que para o mercado interno.

E tem mais um fator importante: o mercado externo paga melhor. O mercado internacional tem uma postura muito mais profissional que o mercado nacional. Assim ,um estúdio ou profissional BR, acabam deslocando boa parte de seu esforço para o mercado mundial.

Assim estas empresas descobrem o caminho para a sua manutenção e futura expansão de seus negócios, mantendo-se saudáveis mesmo no cenário incipiente do desenvolvimento de jogos nacionais.

A peça que falta

A visão que eu tenho e diversos profissionais da área de jogos é que a educação é a solução para o nosso mercado nacional. Quando eu falo em educação, não é a técnica ligada a área de games, mas sobretuto na área de negócios.

É preciso formar um profissional que trabalhe com negócios em game, um tipo de indivíduo que tenha as noções básicas de desenvolvimento de jogos, mas que tenha um GRANDE experiência em negócios. Eu não acredito no dev que vire empresário da noite para o dia.

Este profissional que navegue por estes dois mundos pode ser uma dos principais engrenagens na mudança para o mercado de desenvolvimento de jogos no Brasil. Os estúdios precisam deste profissional para ser a interface entre o técnico/artístico e o corporativo.

Mas onde encontrar este/a cara?

É a famosa história dos unicórnios das startups: este profissional é muito raro (quase mítico) e normalmente já tem seu negócio ou está atuando em grandes empresas. Eles já falharam, quebraram e perderam este romantismo, sendo bem pragmáticos e olhando o jogo como um produto.

O que devemos fazer?

Precisamos formar este profissional, precisamos que ele faça parte do corpo de um estúdio de jogos, para que ele possa nortear o caminho em busca de oportunidades diversas. Além disso, tem que existir um amadurecimento profissional da equipe, para saber ouvir a sua voz quando necessário.

Este é um caminho que tenho enxergado cada vez mais.

E a foto?

Enquanto não tivermos a visão do negócio e um profissional que fale a língua dos investidores e ds CEOs das grandes corporações, o mercado de games do Brasil, será unicamente do consumidor. As empresas produtoras nacionais não serão grandes players neste ecossistema.

A foto apesar de bela, de um mercado que gera bilhões, tem uma faceta muito triste. Ela não garante o desenvolvimento de mão de obra que possa ser aproveitada pelo mercado local, causando a famosa “fuga de talentos” para o mercado externo.

Precisamos enxergar que precisamos cada vez mais da figura do produtor, do/a cara que sabe de GOVERNANÇA CORPORATIVA (dá uma googlada para você começar a entender…), do/a profissional que saca das tendências do mercado.

Sem isso a foto vai ficar bonita, apenas para inglês ver.

Até nosso próximo artigo!

Tony Garcia é Game Designer, Educador, Gamification Designer, Especialista em Manufatura Aditiva e em Tecnologias Educacionais.
Tem mais de 80 jogos desenvolvidos e trabalhou com mentoria em mais de 30 startups de jogos. Atuou em projetos de jogos educacionais e gamificação. Atualmente é diretor de projetos da Riogamer, Associação de Games e E-Sports do Rio de Janeiro.

CONTEÚDO RELACIONADO