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The Last of Us 2 | Fungo zumbi do game existe, veio da Ásia, é comestível e está no Brasil; confira curiosidades

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Fungo The Last of us cordyceps
Joel, um fungo cordyceps e um humano infectado. Imagens: reprodução.
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Radiação, catástrofes naturais, acidentes em laboratório, invasão alienígena… Os jogos de videogame já se inspiraram em vários tipos de tragédias para apresentar um cenário pós-apocalíptico aos gamers. Contudo, poucos deles sugeriram um fim de mundo de maneira tão curiosa quanto The Last of Us.

No game, um novo fungo da classe dos Cordyceps, também conhecido como “fungo zumbi“, surge causando uma infecção cerebral em humanos e isso toma proporções globais. E 20 anos após o primeiro caso, 60% dos terráqueos já estão contaminados pelo fungo que os desfigura e controla seu comportamento.

A história certamente impressiona, mas algo pode tornar isso muito mais impactante: os cordyceps existem de verdade. Antes de mais nada, é preciso alertar que o fungo em questão não tem essa capacidade apontada no jogo, que ficou por conta da criatividade de Neil Druckman, diretor de The Last os Us 1 e 2, que imaginou como seria o mundo se esse fungo pudesse atacar humanos.

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Contudo, isso não significa dizer que o fungo em questão tenha esse apelido de zumbi à toa. Ele existe, ataca muitos tipos de animais, mas também tem coisas boas. Confira algumas curiosidades reais sobre os cordyceps:

1) que é um cordycep

De acordo com os estudos apontados pelo Prof. Dr. Walber Cruz (USP), existem mais de 1 milhão e meio de espécies de fungo no planeta, entre cogumelos, bolores, leveduras, etc. Assim como se sabe, os elementos do reino fungi podem ser positivamente explorados nas áreas da medicina, culinária, produtos domésticos, dentre outros, mas também existe o lado nocivo disso, já que muitos fungos também são parasitas, como é o caso do cordyceps.

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Formiga atacada por um fungo do tipo cordyceps. Imagem: reprodução.

2) Eles são muitos

Ainda de acordo com o professor, “Existem cerca de 400 espécies do gênero Cordyceps, e cada uma delas ataca um tipo específico de inseto e outros artrópodes” alerta Cruz sobre os cordyceps, que tem, portanto, a definição de fungo entomopatogênico, isto é, fungos que podem parasitar insetos, matando-os e incapacitando-os.

O tipo do fungo citado no game é o Ophiocordyceps unilateralis, que em seu aspecto visual, pouco lembra do que se pode ver nas texturas de humanos infectados pelo parasita. Confira abaixo:

A cabeça de uma formiga Camponotus leonardi, já tomada e morta pelo fungo Ophiocordyceps unilateralis. Créditos: David Hughes.
Cabeça de formiga tomada pelo Ophiocordyceps unilateralis

Curiosamente, vale notar que a espécie de Cordyceps da sub-classe dos ophioglossoides, lembra um pouco mais o visual dos infectados no game. Confira abaixo:

Fungo que contaminou os humanos de The Last of Us existe mesmo e ...
Cordyceps ophioglossoides e um infectado no game The Last of Us. Imagens: reprodução internet.

3) Quando foi descoberto

O fungo que inspirou o apocalipse do game foi descoberto em 1859 pelo biólogo Alfred Russel Wallace. Além de biólogo, o britânico também era geólogo, naturalista e geógrafo, e dedicou sua vida a esses campos, sempre com contribuições consideráveis à ciência.

Suas descobertas científicas no ramo da biologia impressionaram Charles Darwin, que notou que os apontamentos de Alfred eram praticamente iguais aos estudos que ele fazia em sigilo total por 20 anos.

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O biólogo Alfred Russel Wallace, que descobriu os fungos cordyceps.

Temendo que a originalidade de Darwin fosse “esmagada”, o cientista propôs que o trabalho de ambos fosse exposto simultaneamente, o que aconteceu em 1858. No ano seguinte, Darwin concluiu e expôs rapidamente sua teoria, A Origem das Espécies, que lhe deu fama mundial.

A Alfred, coube o mérito de ficar eternizado como o primeiro a propor a distribuição geográfica das espécies animais e, como tal, ser considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia, o que por vezes lhe atribui a “Pai da Biogeografia”. Morto em 1913, Alfred viveu 90 anos, algo raríssimo para sua época.

4) Saem do corpo como um Alien

Nos estudos de Alfred, ele observou que algumas formigas da espécie Camponotini estariam sob uma suposta infecção de efeitos terríveis para esses insetos.

Descontroladas, as formigas infectadas saíam do comportamento padrão do formigueiro, fugiam dali e, alguns dias depois morriam dessa infecção, onde na sequência algo parecido com galhos saía de dentro corpo da formiga.

Alfred descobriu que esses ‘galhos’ eram na verdade um fungo, que após a morte de seu hospedeiro, saía dali de dentro para espalhar seus esporos, as unidades de reprodução dos fungos.

O professor Walber Cruz detalha o processo de infecção do fungo, que lembra em muito o comportamento estranho e morte bizarra dos humanos infectados nos filmes da franquia ‘Alien‘.

Artrópodes como caranguejos, siris, camarões e insetos como formigas, cigarras e borboletas que sejam infectados por esse fungo tem seu comportamento alterado, sendo levados a procurar um lugar propício para o desenvolvimento do parasita, que geralmente é úmido e quente, mas com boa ventilação.

Uma vez nesse lugar, o animal se fixa ali e fungo começa a crescer até causar a morte do organismo infectado, o que pode demorar até 3 semanas. Após a morte do hospedeiro, o fungo emerge por esporulação na superfície externa do cadáver, por onde seus esporos irã se espalhar pelo ambiente.” conclui o Doutor.

Essa esporulação ainda pode acontecer de maneira interna, quando as condições do ambiente não favorecem essa cena, que pode ser conferida no vídeo abaixo:

Ative as legendas em português para entender a narração

5) Eles vão pelo vento!

Os esporos acima são como ‘sementes’ do fungos, que podem ser espalhadas pelo ar até que esbarrem com um potencial hospedeiro. No game, essa é justamente uma das duas maneiras de se contrair o parasita: pelo ar, respirando, sendo a outra por contato com fluídos corporais de um indivíduo infectado.

6) Cordyceps do bem

Nem só de assustar vive esse fungo. Ele também apresenta uma parte benéfica aos humanos, que podem extrair dessas espécies ativos que podem ajudar em vários campos da medicina. O professor Cruz ressalta elas:

Existem diversos estudos desse gênero que apontam grande importância por conta das propriedades promissoras em relação ao câncer e pacientes com resistência à insulina, como é o caso dos diabéticos do tipo 2, predominante em adultos. Entre esses recursos medicinais utilizados estão substâncias como as leucina estatinas, as galactominas anticancerígenas, antibióticos com atividade de clivagem do DNA, etc.” comunica o professor.

O professor Walber Cruz e alguns de seus registros botânicos.

Esses seres que inspiraram a desgraceira toda no game ainda estão sendo estudados para averiguar sua promissora colaboração no desenvolvimento do controle eficiente de pragas em contraposição aos agrotóxicos.

7) Vieram da Ásia

Em tempos de uma pandemia cuja origem se deu à partir de uma cidade na China, isso pode soar um pouco amedrontador. A maioria das 400 espécies de cordyceps veio da Ásia, sendo encontrada em países como Nepal, China, Japão, Coréia, Vietnã e Tailândia.

Os Cordyceps são velhos conhecidos dos chineses, que usam os ideogramas de ‘inverno’, ‘verme/inseto’, ‘verão’ e ‘grama’ (冬虫夏草) para defini-lo, ficando sua pronúncia como “Dong Chong Xia Cao“. Na Ásia, algumas variações desse fungo são exploradas comercialmente com fins medicinais.

Esses produtos prometem auxiliar em atividades antitumorais, atividades potentes de oxidação, efeitos antienvelhecimento, anti-diabetes (hipoglicêmicos) e melhorias na função imunológica.

De acordo com o site Bio Fact Life, devido a dificuldade de se extrair isso da natureza, os preços do fungo no atacado chinês superam US $ 14.000 por kg (R$ 7.232 na cotação atual) e sobem o tempo todo. 

Vai um cordcepys aí? Esse daí sai por R$ 270.

Contudo, um laboratório na Malásia já está conseguindo produzir cordyceps em ambiente controlado, e esse produto, o timo ™ Cordyceps, já estaria inclusive no Livro dos Records malaio, como sendo o primeiro e único estroma de cordyceps a ser cultivado em um ambiente de sala limpa.

O feito teria sido conquistado usando biotecnologia avançada para regular a temperatura, umidade, nível de oxigênio, quantidade de luz e acidez do substrato em diferentes estágios de crescimento.

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Cordyceps em laboratório da Malásia. Imagem: Bio Fact Life

O site ainda relaciona o produto a questões como o combate à disfunção sexual, problemas respiratórios e outros benefícios. Confira:

8) Estão no Brasil

Sim. Pelo menos desde 2013. Em Santa Catarina. É o que aponta um artigo da UFSC, que relata que formigas zumbis foram vistas durante uma expedição do projeto PPBio/SC (Programa de Pesquisa em Biodiversidade de Santa Catarina) no Parque Nacional de São Joaquim no estado de Santa Catarina (Brasil), em 2013.

Ainda de acordo com o artigo, os alunos de mestrado Raquel Friedrich e Fernando Mafalda, do Laboratório de Micologia da UFSC (http://micolab.paginas.ufsc.br), descobriram formigas zumbis em Urubici-SC. Ainda de acordo com o artigo, um primeiro estudo na época levantou a probabilidade de que poderia se tratar de uma espécie ainda não conhecida pela ciência.

E se fungo ainda não foi confirmado comummente no sul do Brasil, é seguro dizer que seu derivado pode estar em qualquer prateleira, já que cápsulas com seu conteúdo também são vendidas legalmente no país, conforme é possível conferir abaixo.

Frasco de CORDYCEPS SINESIS, vendido pela Drogaria Minas Brasil

Por fim, por enquanto não qualquer registro de que alguma variação desse fungo possa contaminar humanos com o mesmo grau de lesão vivenciado no universo de The Last of Us. Contudo, vale ressaltar que qualquer consumo derivado do fungo em questão precisa ser acompanhado de prescrição médica.

The Last of Us 2 foi lançado em 19 de junho deste ano e está disponível apenas para PlayStation 4. Além da segunda parte do game, a história está sendo adaptada para o formato de série, embora muita gente ache que isso é uma má ideia.

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