Bernie Sanders, senador dos Estados Unidos, está preocupado que as empresas espaciais privadas usem a NASA como um caixa eletrônico para financiar seus últimos empreendimentos. As perspectivas de turismo espacial e colonização – a nova ideia de que os humanos podem viajar privadamente ao espaço para fins recreativos e coloniais – estão destinadas a se tornar uma realidade apoiada por corporações privadas bem financiadas.
Veja também:
Elon Musk é o principal executivo da SpaceX, onde lidera a corrida para colonizar Marte e capitalizar o potencial que existe fora da atmosfera terrestre. Jeff Bezos lidera a Blue Origin, outra empresa de exploração espacial que se posiciona para o turismo e vendeu uma passagem para o espaço por US$ 28 milhões no ano passado. Os donos de ambas as empresas estão entre os homens mais ricos do mundo, mas, apesar disso, a SpaceX e a Blue Origin são subsidiadas pelo governo dos EUA.
A polêmica com o dinheiro público
A SpaceX e a Blue Origin continuam a desenvolver as tecnologias de ponta necessárias para realizar seus planos grandiosos para viagens espaciais comerciais, mas a NASA e o governo dos EUA os apoiam. Em vez de explorar o espaço como sua própria entidade – como foi o caso durante a corrida espacial original da década de 1960 – a NASA frequentemente terceiriza seus projetos para empresas privadas.
A SpaceX, por exemplo, recebeu um contrato no valor de quase US$ 200 milhões para explorar uma lua orbitando o planeta Júpiter. Um dos contratos da Blue Origin chegou a US$ 130 milhões para contribuir para uma estação espacial comercial de órbita terrestre baixa (LEO). De acordo com Sanders, a competição por contratos federais levou até a disputas legais, já que as empresas de exploração espacial prosperam com o financiamento da NASA – às custas dos contribuintes dos EUA.
Sanders acredita que o esforço para privatizar a indústria espacial veio às custas injustas do governo federal e dos contribuintes. Assim ele escreveu em uma coluna editorial opinativa publicada pelo The Guardian: “Estou preocupado que a Nasa tenha se tornado pouco mais que um caixa eletrônico para alimentar uma corrida espacial”, disse Sanders, observando a diferença entre a competição atual e a rivalidade internacional original.
“Não entre os EUA e outros países, mas entre os dois homens mais ricos da América – Elon Musk e Jeff Bezos, que juntos valem mais de US$ 450 bilhões.” O senador faz uma pergunta muito válida: por que é ônus do governo dos EUA financiar empresas de dois dos homens mais ricos do mundo?
Por que a NASA está investindo em empresas privadas?
Como justificativa para seu descontentamento com o investimento dos EUA em empresas espaciais privadas, Sanders observa a imensa riqueza de Musk e Bezos. Este último vale mais de US$ 180 bilhões e recebe financiamento federal para sua corporação espacial Blue Origin, apesar de possuir propriedades luxuosas e capital considerável.
Isso tudo sem contribuir para os impostos que pagam por esse financiamento, afirma Sanders. “Em um determinado ano, ele não pagou nada de imposto de renda federal”, disse Sanders. “Ele é o dono da Amazon, que, em um determinado ano, também não pagou nada de imposto de renda federal depois de faturar bilhões em lucros.”
A forma como a exploração espacial privada está estruturada hoje significa que os bilionários podem obter lucros enormes sem investir esses retornos em suas próprias empresas. Em vez disso, o governo federal – ou seja, a NASA – está assumindo o peso do investimento de capital necessário para avançar a tecnologia espacial para ganho empresarial.
O maior problema identificado por Sanders é a questão da propriedade do espaço. Embora o governo federal contribua com ativos financeiros para empresas privadas, não há retorno sobre esse investimento, apesar dos ganhos obtidos com a economia espacial. Em 2018, as empresas privadas ganharam US$ 92 bilhões em bens acumulados no espaço que não seriam possíveis sem o apoio federal, segundo Sanders.
Mesmo aquisições físicas no espaço não estão sujeitas ao controle governamental – a Lei Espacial de 2015 permite que empresas privadas mantenham a propriedade de materiais e terras descobertas no espaço. A lei exige que o poder executivo do governo dos EUA “facilite a exploração comercial e a recuperação comercial de recursos espaciais por cidadãos dos Estados Unidos”, e Sanders observa que a lei foi praticamente incontestada no plenário do Senado.
O cerne do argumento de Sanders é que os benefícios colhidos da exploração espacial devem beneficiar o país como um todo, não alguns homens ou corporações. Como a NASA e o governo federal financiaram grande parte dos avanços desenvolvidos por empresas privadas, a linha de pensamento do senador é incrivelmente coerente.
“Quando dermos o próximo salto gigante para o espaço, vamos fazê-lo para beneficiar toda a humanidade, não para transformar um punhado de bilionários em bilionários”, concluiu Sanders. O senador dos EUA sugere que o Congresso se envolva em ‘debate sério’ sobre a questão, pois considera conceder um resgate de US$ 10 bilhões à empresa espacial Blue Origin de Bezos.
Via: Screen Rant/The Guardian/Space Act